Porque ir à igreja? Porque ir à missa? As nossas motivações são diversas e, por vezes, estão sujeitas as circunstâncias pelas quais passamos. Sem desconsiderar o que cada um traz consigo para vir ou não à igreja devemos evidenciar a razão primeira da nossa reunião semanal: o encontro com o Senhor. Consequentemente, este encontro se dá também com os irmãos e conosco mesmos. O desejo de encontro, em primeira instância, é o que deve nos motivar para sairmos das nossas casas em direção à casa comum que é a igreja.
A bem da verdade, a celebração já começa quando me deixo conduzir e atrair por Cristo para participar do seu Mistério juntamente com os irmãos de caminhada. Como diz o salmo 83 (84): “Meu coração clama só por ti, meu coração com saudade está. À tua casa, eu desejo ir. Não vejo a hora de te visitar. Na tua casa, meu Senhor dá vontade de ficar. Os que moram lá contigo são felizes, tem abrigo e te louvam sem cessar. Em tua casa, meu Senhor, todos vão te visitar. Aí vale mais um dia do que mil em outro lugar. Em tua casa, meu Senhor, também vou te visitar. Feliz quem em ti confia. É bendita a romaria que nos leva ao teu altar”. Sem sentir esta saudade e este desejo de se encontrar, nossas celebrações se transformam em ritos vazios e mero cumprimento de preceitos, leis e obrigações. A fé requer encontro, sintonia, vivacidade e interação.
A consciência de peregrinos nos ajuda para começarmos bem nossa celebração. A procissão de entrada desperta em nós esta verdade: somos um povo à caminho. Guiados pela sua cruz de Cristo, que vai a nossa frente, rumamos ao seu encontro. O altar é Cristo. O altar ocupa o centro da igreja, onde estão voltados os nossos olhares. Um antigo canto assim expressa esta realidade peregrinos: “Somos um povo que alegra vai, marchando dia a dia ao encontro do Pai. Aqui reunidos nós participamos desta Igreja santa que pro céu vai caminhado. Todos congregados pelo amor do Senhor, nossa voz unida cantará o seu louvor. Todos peregrinos pela terra passamos. Nossa fé ardente vai o mundo iluminando”.
Somos convocados pelo Senhor e congregados em seu amor. É Cristo quem nos reúne em verdadeira synaxis, ou seja, assembléia dos batizados chamados a unidade, chamados à comunhão.
Na realidade, é Jesus Cristo quem preside a Eucaristia. É que nos ama primeiro, que nos congrega, que nos fala, que recebe as nossas orações e que, pela força do Espírito Santo, se oferece ao Pai por nós. É ele que nos alimenta com o pão do céu, o pão da vida, o pão da verdade. A Eucaristia nos projeta para o regresso glorioso de Cristo. A Igreja depende totalmente dessa ação de Cristo. O povo de Deus reza e oferece-se ao Pai por Cristo, com Cristo, e em Cristo, na unidade do Espírito Santo. Toda comunidade que se reúne para a Missa, mesmo as menos numerosas, representam a Igreja universal neste grande ato da Eucaristia. Portanto, a Missa é um ato público e não uma atividade privada ou individual. Jesus Cristo, que sempre precede à Igreja, é quem preside verdadeiramente a missa e reúne seu povo de sacerdotes (cf. 1Pd 2,9). O fato de nos reunirmos para a Missa é uma coisa tão óbvia, que corremos o risco de não compreendermos o significado real da assembléia.
A celebração começa com a procissão de entrada. A procissão, quer seja pequena ou grande, nos faz lembrar que a nossa vida é uma peregrinação sobre a terra. Nós todos estamos na mesma santa caminhada juntos. Em cada Missa , Jesus Cristo reúne este povo para celebrar o grande memorial da sua paixão, da sua morte e da sua ressurreição. Este memorial nos une e nos faz partilhar da vitória de Cristo que nos conduz ao longo do caminho, rumo à nova Terra Prometida, de comunhão com Deus e entre nós.
Na própria saudação de abertura, quando o bispo ou o padre, agindo na pessoa de Cristo, diz “O Senhor esteja convosco”, ao que o povo responde “Ele está no meio de nós”, estamos reconhecendo o fato de que Jesus Cristo está realmente presente no meio de nós, satisfazendo o nosso desejo de nos reunirmos com Ele. “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí, no meio deles” (Mt 18, 20). Mas quando dizemos que Jesus está no meio de nós, nós recordamos, também, que ele quer que nós estejamos lá onde ele está – no coração do próprio Deus.