Permitam-nos, este mês, não esquecendo da importância de nossos santos e santas, abordar a figura de Maria, Mãe das dores. É um título que nós dificilmente daríamos às nossas mães, embora muitas delas tenham sofrido, ou ainda sofram, muito. Mas, em Maria, o sofrimento foi, de fato, um componente de sua vida, da “com-paixão” com seu Filho, o Homem das dores (Isaías 53).
O sofrimento de Maria, com e por Jesus, começou muito cedo, na Encarnação, mas, especialmente, quando ela O deu à luz. Não encontraram hospedaria, nem acolhida. E São José teve que procurar, nas cercanias de Belém, alguma gruta para abrigo. Coube ao Filho de Deus feito homem nascer num lugar onde os animais eram recolhidos durante a noite. É claro que o coração da Mãe deve ter sofrido muito com isso. Por outro lado, os preparos que ela fizera para esse nascimento proporcionaram a Jesus um berço, ao menos agradável, aquecido pelo seu amor de Mãe, e também pelo amor solícito de São José. Algum tempo depois, quando Jesus tinha cerca de 2 anos de idade, Herodes empreende uma perseguição contra Ele. Maria e José fogem para o distante e desconhecido Egito, terra da qual nem sequer conheciam a língua. Uma viagem longa, difícil, sofrida. Maria a empreende por amor e pela segurança de seu Filho pequenino.
Aos 12 anos um acontecimento extraordinário, Jesus sobe a Jerusalém para a festa da Páscoa, na companhia dos pais. Ao invés de voltar com eles, fica no templo. O sofrimento de Maria, diante da perspectiva de tê-lO perdido, lembra-nos a profecia de Simeão: "Uma espada de dor vai atravessar o teu coração, por causa desse Filho" (cf. Lc 2,34-35). Essa espada apenas começava sua trajetória, até o mais íntimo do coração da Mãe. A vida oculta de Jesus em Nazaré foi também, de certa maneira, um sofrimento para Maria. Se Ele era o Messias, como entender esse silêncio de quase 30 anos? Certo dia, contudo, Jesus lhe anuncia sua partida, para realizar a missão pela qual viera ao mundo: pregar o Evangelho. Ela deve ter aderido a essa missão imediatamente. E acompanhou seu Filho, desde a primeira pregação, que talvez tenha sido o Sermão da Montanha, até à última palavra no alto da Cruz: "Tudo está consumado" (Jo 19,30).
Com o tempo e acontecimentos, começaram a conspirar para matá-lO. Maria vivia na ansiosa expectativa de quando e como isso ocorreria, até que Jesus se dirigiu ao Horto das Oliveiras. Ela deve ter acompanhado, de longe, seu Filho que sofria, antevendo a própria Paixão e Morte, em terrível agonia. Foi grande o sofrimento de Maria, vendo o precioso sangue de Jesus verter sobre a terra, a escorrer pelos lajedos daqueles lugares tétricos, onde eram supliciados os réus, ou os inocentes, injustiçados como Ele. Maria recolhe esse sangue, herdado dela, mas, também, unido à Pessoa do Verbo, portanto sangue divino e redentor. Dor ainda pior foi a da coroação de espinhos. Nunca antes a história havia registrado flagelo semelhante. O único caso foi o de Jesus. Perfuraram sua fronte com espinhos penetrantes, que fizeram o sangue escorrer pelos olhos, pela boca, pelos ouvidos, lavando aqueles sentidos pelos quais nós mais pecamos, e a própria cabeça, da qual se origina tudo o que é bom ou mau, no homem.
Maria assiste, na manhã seguinte, à triste cena da condenação oficial de Jesus por Pilatos, que lava as mãos em sinal de covarde omissão. Herodes, pouco antes, já O havia declarado louco. Sim, Jesus era "louco", mas de amor e de misericórdia, para com um povo que não merecia esse sacrifício infinito de Salvação, que Ele lhes oferecia.
Logo depois, começa a triste marcha para o Monte Calvário. Nas curvas desse caminho, Nossa Senhora deve ter encontrado seu Filho. Por breves trocas de olhares, ela O conforta, assegurando-lhe que está com Ele. Embora sem levar a cruz ao ombro, como o Cireneu, ela carrega com Ele todo o seu sofrimento, até à consumação pela morte.
Durante a crucifixão, cada martelada, pregando com cravos as mãos e os pés de Jesus, era um golpe no coração da própria Mãe. A agonia durou em torno de três horas. Jesus, levantado na cruz, pendente entre o céu e a terra, seus braços abertos como um arco-íris de paz sobre o mundo, exclamou: "Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lc 23,34). Nessa cena, o Evangelho de São João descreve Maria de pé, junto à Cruz, jamais se deixando abater, nem pelos mais extraordinários sofrimentos. Jesus, já quase sufocado pelo sofrimento e pela dificuldade de respirar, ainda lhe confiou João como filho e, na pessoa do evangelista, essa filiação foi estendida a todos nós (cf. Jo 19,25-27).
Chega o momento da morte: "'Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito'. Dizendo isso, expirou" (Lc 23,46). Jesus está morto. Morto não como Deus, morto em sua natureza humana, morto enquanto homem. E Maria chora a morte do seu Filho. Chora muito. Suas lágrimas certamente nos lavaram, como o sangue de Jesus, que se mistura às lágrimas da Mãe, como um grande banho, um lavacro da maldade humana, que nos deu o prêmio da Vida nova. Jesus é entregue a Maria, que recebe em seu colo o Filho morto: inocente e condenado, estraçalhado, feito pedaços e, ainda mais, o coração atravessado pela lança, de onde escorria, ainda, um pouco de sangue e água. Ele já não sofre; a Mãe, porém... Levam Jesus para o sepulcro, sela-se a pedra, e Maria vai para a sua casa, chorando, silenciosa. Mas esta grande mulher de fé, "meditando sobre os acontecimentos que conservara em seu coração" (cf. Lc 2,19), compreende que breve virá o grande anúncio da Ressurreição. Durante o silêncio do Sábado Santo, ela foi a única que acreditou e esperou.
"Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!" (Lc 1,45).
No mês de abril fazemos memória, também, além de outros a: São Francisco de Paula, Santa Maria do Egito, São Xisto I, São Caetano Catanoso, São Vicente Ferrer, Santa Maria Crescencia Hoss, Santa Irene, São Marcelino de Cartago, São Germano José, Santa Maria de Cléofas, São Terêncio, Santo Estanislau, São Hermenegildo, São Crescêncio, São Benedito José Labre, Santa Bernadete, Santo Apolônio, B. Maria da Encarnação, São Leão IX Papa, São Teoldoro, Santo Anselmo, Santo Apolônio, São Jorge, Mártir, São Marcos Evangelista, Nossa Senhora do Bom Conselho, Santo Anacleto, Santa Zita, São Pedro de Verona, São Pio V, Santa Catarina de Sena, São Francisco de Paula, São Xisto I - Papa, Santa Irene, Santa Bernadete, Santo Expedito, São Jorge, São Marcos Evangelista.